domingo, 12 de dezembro de 2010

O clube dos segredos

Já lá longe nos tempos, se formou um clube com o intuito de fazer coisas em grande e em segredo… Esse clube - disseram os seus fundadores, estava aberto a todos e todos eram tratados como iguais… Mas tinham que saber guardar muito bem os segredos que por lá se partilhavam, pois no dia em que eles fossem do conhecimento de todos o clube soçobraria.
Tinha mais, haveremos de fazer o melhor para os outros em troca da sua simpatia – Disseram eles, vangloriando-se da sua nobre causa.
Não pretendo afrontar os seus criadores, mas uma vez que esse clube ainda hoje existe com o mesmo intuito e força de lei, importa que se busque apurar se os pilares ainda se mantém no devido lugar, não vá a obra perecer por falta de atenção.
Muito mais se poderia dizer sobre este clube, mas o que julgo ser da maior importância é a análise do seu processo que se caracteriza pelo secretismo. Como pode a matéria funcionar, se continuamente se abusa do seu uso indevido, esperando que o hábito faça as engrenagens fluir como se não tivessem conhecido uso que não fosse o contrário ao seu próprio ser, que na verdade é o que o caracteriza.
Este clube chamava-se república, movia-se num processo que se queria democrático. Mas haverá alguém que tenha a capacidade de fazer entender que esta fatídica correlação entre democracia e secretismo se mostra corruptível em duplo sentido? Alerto apenas, pois corre-se o risco de que os segredos façam parte dos assuntos públicos e por seu lado os assuntos públicos se confundam também com segredos…
Ricardo Silva

A sociedade de viveiro

Comparo Portugal a um grande viveiro, em tudo artificial com uma população habituada a comer à hora certa. Neste viveiro existem grandes necessidades e poucas preocupações. Nós população adoramos a promessa de uma próxima e bela refeição, capaz de fazer explodir as papilas gustativas. Mas principalmente que terminado o banquete a conta não seja apresentada, seria uma ousadia, afinal de contas nós temos o direito a comer, o direito a ficar satisfeitos, o direito a ser rudes e por fim ainda o direito a reclamar.
E quais os nossos deveres? Obviamente que nenhuns, tal como num viveiro de trutas nada se espera delas, apenas e só que sejam trutas, também de nós nada se espera, apenas que continuemos a ser aquilo que somos.
O tratador do viveiro dá-se por honra de governo, sendo que de vez a vez, muito ordeiramente a populança se torna no tratador (é importante que haja essa esperança). Sinceramente pouco sei acerca dos diálogos das trutas, mas acaso neste viveiro de homens não surgira espaço ao questionamento de veras existencial - afinal porque estamos aqui?
Esta questão tão pertinente em conteúdo e tão vazia em significado, emerge quando a comida não surge a horas, ou então nem surge, resultado da racionalização imposta pelo tratador. É nesse mesmo momento que munidos da maior da lucidez a populança quer saber se afinal ainda vai haver comer para todos, pois temos sido um grupo exemplar a pedir e ainda mais exemplar a obedecer!
Revolução, revolução! Gritam todos no viveiro. – Já não há comida! Revoltem-se os ânimos, acordem-se os espíritos e faça-se uso da razão adormecida, pois chegou o tempo de lutar pelos nossos direitos retirados, lembrando que afinal nada se conquista sem o dever!
Formam-se ofensivas, afia-se a crítica, prepara-se o discurso, pois o tempo é de luta e todos os contributos são bem-vindos – Não! São mesmo necessários. Apela-se à união, há tempestade no viveiro! Mudam-se as cadeiras do lugar, aproveitam-se as oportunidades… Eis que senão se grita energicamente – Temos novo tratador! Passado a tempestade, instala-se a bonança.
Os espíritos voltam a adormecer, esperando ganhar forças para a próxima tempestade que certamente virá…
Neste viveiro, que quis Abril que lhe fossemos agradecidos, há de novo grande reboliço. Mas há quem diga - Os tempos já não são o que eram, pois eu… Eu sinto-me desabituado à revolução e bastante acostumado à ingerência, deixem-me descansar mais um pouco, pois amanhã tudo passa…

Responsabilidade, é minha, é tua e é de todos nós

Numa altura em que o dinheiro escasseia nos bolsos de quem dele precisa, advinha-se que também em breve faltará a virtude e a paciência. O homem consegue sofrer durante muito tempo e nós portugueses somos um exemplo de sobrevivência no seu mais ingénuo significado. Recusamo-nos a tudo fazer, relegamo-nos para a birra e pedinchice, esperando que alguém que não nos é nada, tudo faça por nós.
Como é que podemos estar em desacordo acerca de tudo e cruzar os braços quando algo tem que ser feito? Talvez fosse melhor estarmos de acordo em alguma coisa, ainda que pouco significante, nos incutiria no espírito a vontade de dar a mão ao nosso semelhante e nada recear…
Não são demagogos com os seus malabarismos que nos irão tirar deste fosso, para que tal aconteça, para que a vida possa voltar a ser vivida temos que abrir os olhos aos problemas reais e ser responsáveis pelas nossas próprias vidas. Pois afinal, se a mim espetar uma agulha a dor daí resultante sou eu que a sinto. Não reduzo a virtude da preocupação alheia, nem o espírito solidário que toda e qualquer sociedade deve ou ter ou fazer por ter. Aquilo que se pretende é que a solidariedade não seja uma solidariedade desresponsabilizante, mas acima de tudo uma virtude vinda da maior das liberdades individuais.
Recuso-me a viver num mundo de curandeiros, que tudo prometem em troca de nada, ou quase nada. Pois aquilo que nos retiram é mais do que tudo, é a vontade para viver e para conhecer o amargo da vida ansiando encontrar o doce. Só permitindo à criança que ela caia é que se pode esperar que de futuro caminhe autonomamente.
Lanço o desafio que se crie uma sociedade sustentável, uma sociedade de longo-prazo, em que cada qual é responsável pela sua própria vida e ao mesmo tempo todos somos responsáveis por todos e em frente a todos.
“Não esperes o pão da benevolência do padeiro.” Smith, A.
Ricardo Silva

Boas vindas

Este espaço está reservado a devaneios cerebrais, toda e qualquer interpretação deve ficar atenta ao imprevisto e imprevisivel. Pois afinal, quem não tem os seus devaneios? Quem não acorda um dia e sente a necessidade de tudo dizer e nada querer significar? A interpretação é a arte da descodificação simbólica.

Ricardo Silva